sábado, fevereiro 18, 2012

Pedro Barroso - Memória inútil de mim

Continuo a pensar que tenho idade de brincar. Sinto-me, mais que nunca, com esse direito.
Apetece-me ser sexagenário e criança. Olhando tudo com a candura da primeira vez, e o veneno da última.
Por isso, aqui vos trago, entre várias loucuras de cariz pessoal e intransmissível, contos alegóricos de humor e fantasia, ao mesmo tempo que relembro, de mim, passados heróicos e semi-conseguidos.
Tudo misturado, como gritos avulsos e diferentes que lançasse na paisagem. Momentos de gozo e susto, já agora. Surpresa permanente. Porque tanto me apetece escrever sobre a crise de escoamento dos nabos em minderico, como dissertar sobre as ácidas manobras da banca mundial; as mais delirantes vindicações erótico-sanitárias; os justos direitos do mexilhão de rio; as prodigiosas parábolas evangelizadoras; ou fazer biografia, essa memória quase inútil de mim, e lembrar o problemático facto de ser gordo entre outras rotundas perplexidades deste nosso cinzentíssimo viver.
Mas há um propósito, um eixo comum, uma intenção.
Tenho por lema que o meu leitor - a existir semelhante criatura - tenha tanto gozo na leitura do que escrevi, quanto eu tive em escrever. E se ria e chore perdidamente comigo.
Porque a partir de agora, ao que parece, já vale tudo.
Porque já tudo deixou de valer o que parece.
Prometo emendar-me um dia destes. Até lá - mesmo sem jeito algum para guru do conhecimento - continuarei soprando a loucura crítica possível. O grito de dignidade. Mas também o sonho, a fantasia, sem os quais a dura verdade se torna intragável. Enfim, a tal quase intransitável ruela da Memória, da Ironia e do Futuro.

Pedro Barroso

1 comentário:

Juliana Borges disse...

Este é um livro de Pedro Barroso? Hmm não sei se o leria, estou numa fase "doferente" haha